Queijo artesanal da serra da Canastra luta contra barreiras legais
DANIEL MÉDICI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
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As belezas da serra da Canastra não são feitas apenas para os olhos. É possível apreciá-las, também, com o paladar: afinal, um dos produtos mais cobiçados da região é seu queijo.
Feito artesanalmente há séculos, sempre por pequenos produtores, as qualidades que o tornam único são dadas pelas características naturais da microrregião: o clima, a pastagem e a fauna bacteriana do lugar.
O preparo tradicional do queijo da Canastra pode envolver também um período mais longo de maturação que o de outras regiões mineiras.
O visitante deverá perceber que o produto típico não guarda semelhanças com o queijo minas industrializado encontrado nos supermercados. As fazendas da região, inclusive, não têm sequer autorização para comercializá-lo fora dos limites do Estado de Minas Gerais.
A limitação é fundamentada em uma legislação federal de 1952, amparada por diversas portarias subsequentes, que restringem o trânsito de derivados de leite cru.
Se a justificativa para tais medidas é de base higiênica, muitos dos produtores tradicionais sustentam que elas não são amparadas em pesquisas científicas e existem apenas para benefício do produto industrializado. "Do contrário, por que a França podem exportar seus queijos de leite cru, famosos em todo o mundo, e nós não?", justifica João Carlos Leite, presidente da Cooperativa de Crédito de São Roque de Minas.
NOVAS NORMAS
A questão dos queijos artesanais brasileiros em face às restrições ao leite não pasteurizado tem sido discutida recentemente em diversas esferas. Em dezembro passado, o Ministério da Agricultura publicou a instrução normativa nº 57, que intensifica a inspeção sanitária, permite a maturação dos laticínios por menos de 60 dias e abre a possibilidade da comercialização dos produtos mineiros em território nacional.
A questão dos queijos artesanais brasileiros em face às restrições ao leite não pasteurizado tem sido discutida recentemente em diversas esferas. Em dezembro passado, o Ministério da Agricultura publicou a instrução normativa nº 57, que intensifica a inspeção sanitária, permite a maturação dos laticínios por menos de 60 dias e abre a possibilidade da comercialização dos produtos mineiros em território nacional.
Para João Carlos Leite, porém, tais medidas não são suficientes, pois fazem com que a mercadoria do pequeno produtor chegue ao consumidor final a um preço inviável.
O produtor possui 50 vacas leiteiras (todas devidamente batizadas), sendo que, em média, entre 38 e 40 se encontram simultaneamente em período de lactação. "Consigo tirar de seis a sete litros de leite de cada vaca por dia, o que não é muito. Mas, para o queijo da serra da Canastra, quanto menos leite produz o animal, melhor ele fica", revela.
Apesar das discussões em torno dos laticínios, uma boa notícia: no próximo mês, o queijo da serra da Canastra deve ganhar um selo com certificado de origem, que protegerá a identidade do produto original e tende a preservar os métodos tradicionais de fabricação.
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